A saúde mental tem ganhado destaque nas discussões sobre qualidade de vida, sobretudo no pós pandemia do covid.
E na teledramaturgia podemos encontrar exemplos, às vezes, discretos que passam despercebidos pelo público em geral de personagens com transtornos mentais.
Como avaliamos na novela Vale tudo da Rede Globo, exibida neste ano. Analisamos o personagem Freitas com sua postura rígida, compatível com um quadro psicopatológico.
Sua rigidez vinha aliada ao isolamento social, fala formal e repetitiva, dificuldade em expressar emoções, fixação por idéias delirantes, demonstrava, a quem estivesse atento, um quadro possivelmente esquizofrênico.
E o transtorno de esquizofrenia é uma doença mental crônica grave que afeta os pensamentos, sentimentos e comportamentos de uma pessoa, provocando a perda de contato com a realidade.
Apresentam sintomas que incluem alucinações (percepções sensoriais inexistentes) delírios (crenças falsas), pensamentos e às vezes falas desorganizadas, dentre outros Freitas apresentava diversos sinais, o que nos permite levantar a hipótese diagnóstica, embora fictícia.
O fato de seu chefe imediato não lhe dar atenção nas inúmeras vezes em que Freitas pede dinheiro “para a casa de sua mãezinha”; possivelmente, Marco Aurélio já o conhecia e sabia que sua querida mãezinha já era falecida.
A forma como ele foi retratado no último capítulo da telenovela, colocou o público numa posição de perplexidade, afinal a personagem icônica Odete Roitman morreu ou não morreu? Eu digo que sim, ela morreu. Assassinada pelo personagem Marco Aurélio.
E sua ressurreição no final da novela não passou de um delírio bem elaborado pela autora. Podemos analisar a cena, como um tiro à queima roupa não mataria?
Como ela poderia ter sido retirada de um Hotel como o Copacabana Palace pelo humilde Freitas sem que ninguém percebesse e ele conseguiria ter montado todo aquele aparato numa cabana, com equipe médica conceituada, do porte de Odete Roitman em tempo recorde? Nem a mais fantasiosa dramaturgia brasileira conseguiria essa proeza.
Tudo não passou de um grande delírio de Freitas, que aliás vivia também um relacionamento amoroso que não existiu com o mordomo Eugênio, da mansão dos Roitman. Um personagem discreto que não se ausentava da mansão, que servia com a própria alma os patrões e que jamais se envolveu com o Freitas.
Concluímos que o arco dramático que revelou o transtorno mental de Freitas, sugeriu um quadro psicótico com delírios e alucinações auditivas e visuais, possivelmente compatível com esquizofrenia paranoide. E nos alerta para a presença dos transtornos em ambientes corporativos, comuns especialmente quando não tratados adequadamente.
*Ana Lúcia dos Reis / Assistente Social e Terapeuta Sistêmica